40 anos atrás, aos 22 anos de idade, Garry Kasparov se tornava campeão mundial ao vencer o 24º jogo em seu segundo confronto contra Anatoly Karpov. Ele se tornava o campeão mundial mais jovem na história do xadrez.
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| Fonte de todas as fotos: kasparov.com |
A jornada rumo ao título
Em um mundo dividido em dois blocos políticos, o ocidental e o oriental, a década de 1980 também marcou a divisão do xadrez. Era difícil cruzar a “cortina de ferro” e, portanto, as notícias demoravam a chegar a outro lado do globo.
Mas em 1980, Kasparov venceu o Campeonato Mundial de Xadrez na categoria júnior ao desbancar Nigel Short. Um ano antes, em 1979, Kasparov já tinha vencido o forte torneio de Banja Luka, à frente do ex-campeão mundial Tigran Petrosian e outros grandes-mestres. Esse novo talento do xadrez russo, que ainda nem tinha rating oficial, começava a atrair olhares.
Kasparov se tornou cada vez mais forte, e continuava a impressionar. Nas Olimpíadas de Xadrez de 1980 em Malta, aos 17 anos, teve a pontuação de 9,5 em 12 rodadas pelo quarto tabuleiro da União Soviética, o time vencedor daquela edição. Em 1982, venceu o prestigiado torneio de Bugojno e o Interzonal em Moscou, o que lhe conferiu o direito de jogar o Torneio de Candidatos e, quem sabe, desafiar Anatoly Karpov, que dominava o xadrez e retinha o título máximo desde 1975.
No torneio, venceu os confrontos contra Beliavsky, Korchnoi (depois de complicações políticas prolongadas) e Smyslov. Assim, em 10 de setembro de 1984 tinha início o primeiro lendário duelo contra Karpov. A disputa ocorreu sob as regras antigas: quem vencesse seis jogos primeiro seria o campeão, não importa quantos empates houvesse. Até então, Kasparov devastou seus oponentes com seu estilo impiedoso de ataque. Mas não seria tão simples vencer Karpov.
Um longo e difícil confronto...
Kasparov começou perdendo os jogos 3, 6, 7 e 9. Sim, Karpov abriu 4 a 0 e parecia indestrutível! Foi quando Kasparov mudou sua estratégia: em vez de jogar para vencer, começou a fazer o possível para não perder. Isso levou a 17 empates consecutivos; alguns curtos e sem graça.
No jogo 27, Karpov venceu mais uma e só precisava de mais um ponto para acabar o duelo. Mas com seus nervos de gelo, preferiu continuar com sua estratégia, evitando linhas arriscadas. A reviravolta começou: Kasparov venceu o jogo 32. Após mais 14 empates, as autoridades de Moscou já estavam impacientes com a duração do match. Para completar, depois que Kasparov venceu os jogos 47 e 48, Florencio Campomanes, então presidente da FIDE, declarou o confronto abortado e sem vencedor.
Em meio a controvérsias, protestos e debates, a FIDE mudou as regras do Mundial: o total de jogos seria limitado a 24. Em caso de empate, o atual campeão continuaria com o título. Foi assim que, em 3 de setembro de 1985, Karpov e Kasparov iniciaram seu segundo confronto.
Destinado a vencer
No novo duelo, Kasparov parecia mais cuidadoso e não subestimou Karpov: começou o primeiro jogo com uma vitória. Karpov virou ao vencer os jogos 4 e 5, e Kasparov só ficaria à frente de novo após vencer os jogos 11 e 16 — este com uma vitória impressionante.
Após mais uma vitória no jogo 19, restavam cinco partidas e Kasparov tinha dois pontos de vantagem. Karpov venceu o jogo 22 e, com o empate do jogo 23, chegou à última partida precisando de uma vitória para reter o título.
Porém, o destino de Kasparov estava traçado: com as peças pretas, Kasparov venceu o jogo 24 após uma luta digna de uma final de campeonato mundial. Karpov construiu um ataque promissor, mas errou no cálculo depois que Kasparov sacrificou dois peões. Em 9 de novembro de 1985, e aos 22 anos se tornou o mais jovem campeão mundial da história do xadrez até então. Kasparov manteria esse título por 15 anos e seria considerado por muitos um dos melhores enxadristas de todos os tempos.
Kasparov resumiu o confronto da seguinte forma: “Karpov fez o melhor mesmo em posições desfavoráveis, explorando todas as oportunidades quando as posições estavam a seu favor. Ele teve um desempenho excepcional. Nos últimos jogos, minha confiança ficou um pouco abalada pela emoção e pelo estresse nervoso; no entanto, consegui me recompor para a partida final. Percebi que Karpov teria que dar o seu melhor para vencer... Em termos de experiência, eu estava atrás, mas a juventude tem uma vantagem: mais energia sobrando.”
Mikhail Tal disse que esse foi “um dos melhores mundiais da história do xadrez”, e acrescentou: “Só desejo que ele fique no trono por mais tempo do que eu!”
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